sexta-feira, 25 de outubro de 2019

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Querido leitor, ou o crl, 

Quando Clitemnestra me entregou um telemóvel rachado por todos os lados, não me ocorreu que eu mesmo estava a viver uma epopeia e que, mais de uma semana depois ainda estaria a versificar sobre o assunto. Não sabia que, entretanto, a gente que lamenta haver menos homens de saias a fazer bastardos nas aldeias (na melhor das hipóteses) ou a seduzir crianças com gosto por rituais que os pais julgam sagrados, ficasse chocada com um assessor que gosta de usar uma saia, preta, por sinal, bem parecida com a que o Cónego Melo usava, com a diferença que o Cónego Melo usava uma efeminada faixa vermelha à campino, benza-o Deus, se a bênção divina chega ao inferno, que eu julgo que não. 

Quando observei melhor as fendas ominosas sobre o ecrã que o aluno de cristianíssimo nome e hábitos pagãos encontrou e deixou nos arquivos mortos do local onde processam mal o meu salário por falta de cabimento, já sabia que, com sorte, ainda mudarei de telemóvel uma ou duas vezes, antes de acontecer uma tragédia qualquer que ainda não sei identificar. Não esqueçam que tragédia significa, etimologicamente, "canto do bode", que é de todos os machos mamíferos o que mais sofre, seja porque os judeus o apedrejam para se livrar das mrds que fazem (sim, os judeus fazem mrd, ou julgam que os católicos tinham o monopólio? Ambos julgam lavar-se dos pecados com parvoíces, ao menos os católicos não fazem mal aos bichos e limitam-se a fazer o que eu estou a fazer agora - com a diferença que eles obtêm a absolvição, porque escondem, e eu sou condenado porque sou um exibicionista), seja porque, pobre coitado, passa por ter chifres só porque pertence a uma espécie que é designada pelas fêmeas, as cabras. As vacas. As ovelhas e o crl. Ainda estava no sumário escrito no quadro: "sistema digestivo das aves granívoras [a dissecação do pito continuava  enquanto eu recobrava os sentidos dantianamente perdidos], ruminantes e o crl". Não interessa. Ideologia de género é coisa que por enquanto, em Portugal só interessa a alguns correligionários da senhora Crista murcha, que lá teve de apertar a mão ao fascista encarnado que, esse sim, não demorará muito até que ponha as pintas nas pontas dos cornos dos professores e professoras que andam para aí a dizer que cada um é que sabe para o que vem, os malandros, que deviam estar era a dizer que as mulheres usam saias e os homens calças que, coitadinhas, as crianças macho já nem sequer têm horror ao lápis de cera cor-de-rosa, os maricas.

E dizem os direitalhos do baralho que perdeu 15 crl para dar lugar a 1 fdp que não devia ter saído da cdm, que, cito, o fachista lampião, que os lampiões são uma espécie de facho, "não é causa de nada" . Que não seja. Benza Deus quem tem tal otimismo. Também eu o tinha enquanto esperava o retorno de Perséfone e, vai-se a ver, em vez da Primavera a subir dos infernos, vem uma fria aragem que arrepia até os pelos do cu de um babuíno. Continua o pseudofacho a dizer que o facho é "consequência de um sistema político em desagregação" - como o ecrã do telemóvel morto que me foi entregue no final do último canto antes deste. Ora bem. O sistema político caiu ao charco e temos que mudar alguma coisa para que fique tudo na mesma. O João Miguel Tavares aconselha que se tire a mola do nariz e que se lute por melhores políticas (não se se entende se está a falar de políticas-gajas ou de políticas-que-é-uma-maneira-de-dizer-roubalheiras) e melhores políticos. O que me faz impressão. É que julgava que as pessoas de direita não eram políticas, eram imunes a essas mrds xuxalistas. Porém, ignorando esse pormenor antitético que levará à identificação dos melhores políticos com os não políticos, ou apolíticos e com os antipolíticos e outras raças apocalípticas, creio que há aqui um erro de base mais básico: é que arranjar bons políticos não é a solução. Precisamos é de bons imitadores. Gente de fachada fascista  que vá para o parlamento dormir. Assim, funcionarão como as estéreis moscas macho (outra espécie caprina em que as cabras das fêmeas dão nome à espécie) que se libertam em certos habitats para que as fêmeas ponham ovos fertilizados com a prosa do Chagas Freitas. Se o Espírito da História fez o Homem para se realizar algo de mais espetacular que um suicídio seguido de várias cenas de canibalismo, pode ser que estes fachos se apaguem com falta de combustível. Se não, olhem os lírios do campo. Olhem bem, que somos gentinha capaz de acabar com eles ao mesmo tempo que acabamos com a nossa ignorância sedenta de justiça. E só há uma justa saída para a ignorância eleita pela ignorância: cápsulas de cianeto. E caiam, pois, como corpos mortos caem. Como caiu o telemóvel nas minhas mãos. E vi o reverso. E foi o sétimo dia. Ou oitavo, ou o crl. 

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