terça-feira, 28 de abril de 2020

Histórias sem história 1

O dia em que um macaco contou pela primeira vez uma história não foi contado pela história. Quem conta histórias nem quer pensar nisso e, por isso, quer contar a história a partir do momento em que o ato efémero de recriar e inventar acontecimentos ultrapassou o nobre momento em que as almas se tocam na penumbra do que nunca aconteceu e que, por isso mesmo, desvela mais claramente aquilo que sempre acontece e, passando, parece que perdura. Um macaco, digo eu macaco porque é a palavra que as histórias a mim trouxeram, terá contado, um dia, um incidente. E não terá sido uma informação útil. Onde há fruta. A morte de outro macaco. A aproximação de um predador. Terá sido uma história. Um momento inútil a que os outros macacos terão reagido de formas inéditas. Sem predador, terão gritado de pavor. Sem morte ter-se-ão contorcido de angústia. E o macaco mentiroso terá percebido que, tendo mentido, tinha feito, quase de raiz, um mundo novo. Onde todos os que ouviam achavam lugar. Foi o primeiro dia. A primeira luz. No início, o verbo. A ação. O crl. Não sei como foi. Mas terá sido bonito. Às vezes, tenho essa impressão de estar a assistir algo de primitivamente belo. É apenas uma impressão. Uma mentira. Um sopro. Um verbo. Um tempo sem modo. Sem modos. Sem maneiras. A surpresa imprevista de fazer ver o que não existe porque se utiliza como tinta a realidade que inegavelmente existe em nós e, por isso dizemos que sim, existe. Enganados, exultamos. Embriagados de poesia, acordados em sabedoria, confundidos em filosofia e mergulhados, atolados, na mais bestial, animal e fortuita fantasia. E é a essa história que chamamos verdade.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

8

Querido leitor, ou o crl, 

Quando Clitemnestra me entregou um telemóvel rachado por todos os lados, não me ocorreu que eu mesmo estava a viver uma epopeia e que, mais de uma semana depois ainda estaria a versificar sobre o assunto. Não sabia que, entretanto, a gente que lamenta haver menos homens de saias a fazer bastardos nas aldeias (na melhor das hipóteses) ou a seduzir crianças com gosto por rituais que os pais julgam sagrados, ficasse chocada com um assessor que gosta de usar uma saia, preta, por sinal, bem parecida com a que o Cónego Melo usava, com a diferença que o Cónego Melo usava uma efeminada faixa vermelha à campino, benza-o Deus, se a bênção divina chega ao inferno, que eu julgo que não. 

Quando observei melhor as fendas ominosas sobre o ecrã que o aluno de cristianíssimo nome e hábitos pagãos encontrou e deixou nos arquivos mortos do local onde processam mal o meu salário por falta de cabimento, já sabia que, com sorte, ainda mudarei de telemóvel uma ou duas vezes, antes de acontecer uma tragédia qualquer que ainda não sei identificar. Não esqueçam que tragédia significa, etimologicamente, "canto do bode", que é de todos os machos mamíferos o que mais sofre, seja porque os judeus o apedrejam para se livrar das mrds que fazem (sim, os judeus fazem mrd, ou julgam que os católicos tinham o monopólio? Ambos julgam lavar-se dos pecados com parvoíces, ao menos os católicos não fazem mal aos bichos e limitam-se a fazer o que eu estou a fazer agora - com a diferença que eles obtêm a absolvição, porque escondem, e eu sou condenado porque sou um exibicionista), seja porque, pobre coitado, passa por ter chifres só porque pertence a uma espécie que é designada pelas fêmeas, as cabras. As vacas. As ovelhas e o crl. Ainda estava no sumário escrito no quadro: "sistema digestivo das aves granívoras [a dissecação do pito continuava  enquanto eu recobrava os sentidos dantianamente perdidos], ruminantes e o crl". Não interessa. Ideologia de género é coisa que por enquanto, em Portugal só interessa a alguns correligionários da senhora Crista murcha, que lá teve de apertar a mão ao fascista encarnado que, esse sim, não demorará muito até que ponha as pintas nas pontas dos cornos dos professores e professoras que andam para aí a dizer que cada um é que sabe para o que vem, os malandros, que deviam estar era a dizer que as mulheres usam saias e os homens calças que, coitadinhas, as crianças macho já nem sequer têm horror ao lápis de cera cor-de-rosa, os maricas.

E dizem os direitalhos do baralho que perdeu 15 crl para dar lugar a 1 fdp que não devia ter saído da cdm, que, cito, o fachista lampião, que os lampiões são uma espécie de facho, "não é causa de nada" . Que não seja. Benza Deus quem tem tal otimismo. Também eu o tinha enquanto esperava o retorno de Perséfone e, vai-se a ver, em vez da Primavera a subir dos infernos, vem uma fria aragem que arrepia até os pelos do cu de um babuíno. Continua o pseudofacho a dizer que o facho é "consequência de um sistema político em desagregação" - como o ecrã do telemóvel morto que me foi entregue no final do último canto antes deste. Ora bem. O sistema político caiu ao charco e temos que mudar alguma coisa para que fique tudo na mesma. O João Miguel Tavares aconselha que se tire a mola do nariz e que se lute por melhores políticas (não se se entende se está a falar de políticas-gajas ou de políticas-que-é-uma-maneira-de-dizer-roubalheiras) e melhores políticos. O que me faz impressão. É que julgava que as pessoas de direita não eram políticas, eram imunes a essas mrds xuxalistas. Porém, ignorando esse pormenor antitético que levará à identificação dos melhores políticos com os não políticos, ou apolíticos e com os antipolíticos e outras raças apocalípticas, creio que há aqui um erro de base mais básico: é que arranjar bons políticos não é a solução. Precisamos é de bons imitadores. Gente de fachada fascista  que vá para o parlamento dormir. Assim, funcionarão como as estéreis moscas macho (outra espécie caprina em que as cabras das fêmeas dão nome à espécie) que se libertam em certos habitats para que as fêmeas ponham ovos fertilizados com a prosa do Chagas Freitas. Se o Espírito da História fez o Homem para se realizar algo de mais espetacular que um suicídio seguido de várias cenas de canibalismo, pode ser que estes fachos se apaguem com falta de combustível. Se não, olhem os lírios do campo. Olhem bem, que somos gentinha capaz de acabar com eles ao mesmo tempo que acabamos com a nossa ignorância sedenta de justiça. E só há uma justa saída para a ignorância eleita pela ignorância: cápsulas de cianeto. E caiam, pois, como corpos mortos caem. Como caiu o telemóvel nas minhas mãos. E vi o reverso. E foi o sétimo dia. Ou oitavo, ou o crl. 

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

7

Meu amigo,
O cansaço que me vai nas pálpebras só é superado pelo que me pesa nas sobrancelhas, pelo que hoje nem consigo dizer, pqp, palavrões fingidos. Devia continuar a história de como a Dona Placídia, depois de se despedir de mim e dos meus companheiros na região dos Hiperbóreos, desceu as escadas, seguiu em frente, virou à direita e desceu em direcção aos campos dos asfódelos onde as sombras dos antigos alunos parecem arrastar consigo os choros inconsoláveis das traumáticas mudanças de turma e outras tragédias gregas cujo profundo significado vai para além da minha filosofia e para além da extensão das minhas frases. É verdade que os meus textos abusam das extensões, derivações e outros divagantes diletantismos. Mas o que foi que aconteceu desde o momento em que a Dona Mónica me deixou, expectante em relação à devolução do telemóvel, até ao momento em que, vinda do inferno labiríntico onde mora o cadáver de Astérion, me viria a devolver o inconsciente depositário das minhas lamúrias, o canal de Suez das minhas soezes conversações sobre compras, apoios, faltas de material, grelhas de observação, e fotografias comprometedoras, como aquela em que apareço numa tourada com o Nuno Melo, disso pouco sei. Mas sei que demorou o tempo suficiente para o Tarkovski pôr um gajo a atravessar o caminho com uma vela constantemente a apagar-se e a recomeçar tudo de novo. Pasífae tinha-me garantido que o telemóvel, tendo sido encontrado por um aluno de cristianíssimo nome e hábitos pagãos, fora entregue, insepulto, nos corredores escuros onde a personagem de "Todos os Nomes" entrou, com um cordel atado aos calcanhares, sem notícia de ter voltado. Acreditando na promessa desta voz vinda das profundezas, esperei, qual Penélope, enganado como Ulisses pelos vãos gemidos dos manatins. Foi longa a espera. Até que bateram à porta. Não era neve, nem era leve a expectativa. Quando a hierática figura de Níobe me estendeu um ecrã negro que descera, sem dúvidas, ao inferno. Tomei o pobre corpo flagelado do espelho de obsidiana. A morte parecia triunfar atrás das fendas vidradas que se estendiam por toda a superfície. Os gritos demoníacos que teriam causado o prejuízo pareciam ainda ouvir-se como um eco entranhado na tela. Só pensei, fdrm-m o crl do telemóvel. E caí, como os corpos mortos caem. 

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

6

Almas minhas, gentis, ou o crl

Seria de esperar que a história que tenho estado a contar fosse do interesse geral. Nesta altura, o normal seria já ter sido acusado de mrds e o crl. O Saramago escrevia verborreias sobre o Caim e era o Deus-me-livre. Eu exponho podres sobre gente importante de Guimarães e arredores, envolvendo casos de pedofilia, prostituição, lenocínio, genocídio e o crl e ninguém quer saber. Çafôda. Na verdade não faço nada disso. Cruzes credo, que isto é tudo boa gente, o máximo que ouço falar é de antropofagia, coprofilia e bruxedo homicida. Eu cá não escrevo para o CM. Faço boa literatura. Se duvida, leia Joyce. Leia Proust. Eu escrevo da mesma maneira (mal, mas de forma artística), mas melhor. Se duvida, leia Joyce e prove que ele era mais engraçado que eu. Se o fizer, terá lido Joyce, o que é bom. Tê-lo-á comparado comigo, o que é melhor. E terá lido Joyce (acho que já disse isto), o que o tornará uma pessoa excepcional. Não prometo envolver-me intimamente consigo por causa disso, mas ao menos haverá bons preliminares para uma boa zanga intelectual e uma dramática separação. Se há coisa que a vida me ensinou é que Pedro Chagas Freitas pode ser péssima pessoa e pior escritor, mas quem o lê não é pior (pode até ser infinitamente melhor) que quem lê Proust ou Joyce. Conheci uma pessoa que adora Proust. E votou Bolsonaro. Conheci uma pessoa que não leu Proust, mas que deve ter lido, com toda a certeza, Joyce, e mais valia ter ficado pelo Mein Kampf e pelo Capital. Há coisas que mais vale não salpicar de erudição. Fica a erudição com má fama e a filha-da-putice com cheiro a incenso.

Os meus bravos cavaleiros da Távola Redonda, quando souberam que eu estava sem telemóvel, tendo ele partido para uma demanda que só o Indiana Jones teria alguma vez unhas para dar como satisfatoriamente resolvida no terceiro capítulo das suas aventuras, juraram, quais discípulos desatentos na última ceia, dar a vida por mim. Mas, ó desventura, muita coisa se passou entretanto e nuvens carregadas traziam em si as causas nunca devidamente explicadas da trovoada. Uma funcionária, ou auxiliar de educação, antes chamada de contínua (que é o contrário de discreta) e que hoje se deve chamar de assistente operacional e que dá pelo nome de Messalina, Herodíade ou Pompeia, não sei bem, e que até agora não foi nomeada, confirmou-me que o bicho tinha fugido para parte incerta. Tendo eu que justificar os minutos que o Estado me paga, que não sou de nenhuma etnia nómada mercantilista com simpatia da esquerda e com simpatia pela direita, lá pus os meus putos a verem a dissecação de uma galinha. Não sei se o PAN vai complicar a vida aos professores de ciências por tão bárbara e antiquada forma de mostrar como é que a bicharada é por dentro, mas penso que sempre poderei contar com o apoio do fascista encarnado que, se por piolhices da apolítica compaixão seletiva por seres vivos de espécie diferente e de duvidosa consciência, esta quiser proteger as crianças da malvadez carniceira da ciência experimental, entenderá apoiar, por ser boa e edificante para a raça lusitana, a dissecação de sapos num DAC com o sapo Cocas, com a ajuda de TIC e da Sapo, mais a participação especial dos Bombeiros Sapadores de Sapais, as queijadinhas da Sapa e de todos os agentes saponifocantes que as ciências químicas descobriram para bem da segurança de quem não é cigano e até é capaz de beijar sapos sem medo de herpes ou, quiçá, com esperança de algum efeito psicotrópico ou enlace matrimonial com um filho do Dom Duarte. Os meus bravos cavaleiros e gentis donzelas, eles de desembainhados fuzis e de desembainhadas espadas, elas, davam gritos de horror e satisfação perante os golpes no pescoço do pito, peito abaixo, só para mostrar o papo, moela e proventrículo do pobre animal, fruto doloroso da árvore do lucro e do mal. Ainda se falou na cloaca, quando a Dona Salomé chegou com a notícia. Alegrai-vos ó Céus e ó Terra, que a Excalibur, o Santo Graal e o túmulo de Maria Madalena foi encontrado e não foi no Louvre. Santo Estêvão sofreu pedradas na tromba, coitado, para a sua santidade ser justificada foi preciso este momento. E houve júbilo. E os sinos da Igreja do Santo referido repicaram e é triste que ninguém vá acreditar, devido à barroca forma das minhas escrituras (e julgarão, por Ventura, que não sei escrever porventura), e mais triste porque a verdadeira razão daquele repicar dos sinos de Santo Estêvão de Urgezes foi, com certeza, a morte de alguém. Nada se infere daqui. Júbilo de um lado. Choro do outro. Assim é o mundo. E por hoje fico por aqui. 

terça-feira, 22 de outubro de 2019

5

Amável leitor, ou o crl, 

Há gente mal intencionada que anda por aí a dizer coisas do crl sobre a forma como, supostamente, falo. Supostamente, uso termos de baixo calão. Claro que se baseiam apenas nas pequenas caganitas de humor com que salpico uma página de uma coisa prosopobibliográfica em grande parte responsável pela idiotice que hoje, graças a Deus, comungamos na paz infecta do senhor e que em breve degenerá numa senhora gangrena. As valas comuns esperam ansiosamente pelos nossos risos desencarnados. Por isso, vomitai as vossas mrdas, em tudo mais obscenas que os meus palavrões envergonhados e escritos na moderna e ambígua ortografia das consoantes insidiosas e ide prá cdm, como diria Jung, de forma mais uterina. 

Quem não me acusa, que eu saiba, de expulsar matéria fecal pela extremidade oposta à que a natureza destinou para esse fim, são os meus alunos que, estando eu, naquele dia memorável que decidi narrar segundo uma vaga, resumida e mal planeada concepção joyciana, com laivos sternianos e alguma prontidão garrettiana, pronto a começar a recolher respostas reveladoras da sua capacidade de compreensão das coisas institucionalmente designadas como necessárias à formação de um cidadão, se mostraram profundamente solidários quando se descobriu que o meu telemóvel estava noutro sítio que não nos sítios onde eu tinha estado. O que significa que tinha decidido dar uma volta, tendo aproveitado algum momento de distração da minha parte.
Haverá, por ventura, quem considere isto coisa de somenos. Perder um telemóvel é algo de baixa categoria. O telemóvel, dizem muitos dos meus colegas professores, é o instrumento infernal que está a devorar a capacidade de compreensão, expressão e atenção das crianças. Eu penso que haveria muita razão nisso tudo se os mesmos professores, com ou sem presença nas redes sociais, não demonstrassem profunda afinidade com a vacuidade mental do Medievo Renascimento que marcará as próximas décadas.

Os meus alunos, sabendo que o aparelho com que registo as suas cintilações de sabedoria e complementares momentos de dívida e distracção, rapidamente se predispuseram a vasculhar a escola toda. Coisa desnecessária, que os meus caminhos, além de previsíveis, são limitados. Assim são as veredas do justo. Procurou-se onde tinha estado. O meu telemóvel, com as rachadelas do costume, tinha dado sumiço. E seria aqui altura de, de forma joyciana, dar palavra ao próprio telemóvel. Deixar Ulisses à sua sorte, entregue às almas dos companheiros prontos a enfrentar Cila e Caríbdis, e seguir por alguns momentos a viagem paralela de Telémaco. Não me atrevo a tal, não por falta de arte e manhas, mas por por falta de minutos. Entretanto, este texto, denso e de repelente erudição já deve ter feito mais pela solidão das minhas palavras que todos os palavrões que roguei às naves de brancas velas, enfunadas por sopros alheios aos da minha vontade, onde Agamémnon seguia em direcção ao seu fatal destino. Inspirei e disse aos meus alunos que, à tarde, não estaria em condições para dar fim a um ansiosamente esperado banquete circiano marcado para a tarde. E foi grande a desolação.

domingo, 20 de outubro de 2019

Canção de setembro, de Geoffrey Hill

Canção de setembro, Geoffrey Hill

nascido 19.6.32—deportado 24.9.42

Indesejado poderás ter sido, intocável
não foste. Nem esquecido
nem poupado no tempo devido.

Como esperado, morreste. As coisas andaram,
suficientes, até tal fim.
Apenas tanto Zyklon e pele curtida, terror
patenteado, tanto choro de rotina.

(Tenho feito
uma elegia em causa própria
é certo)

Setembro engorda nas vinhas. Rosas
descamam-se nas paredes. O fumo
de incêndios inofensivos chega aos meus olhos.

Há fartura. Já passa dos limites. 

Geoffrey Hill
New and Collected Poems, 1952-1992
Versão de Manuel Anastácio

sábado, 19 de outubro de 2019

4

Querido diário, ou a cqtpariu,

Desde o último dia em que te confessei alguma coisa e hoje, mais coisas se passaram. Mas fiquei de contar o resto de um dia que tinha sido especialmente coiso. E é assim que volto ao momento em que entrei numa sala que o meu aluno Gorbatchev (que muito mais tempo se passou desde a última vez em que eu o referi e não quero que ele passe, entretanto, nem para Ieltsin nem para o Golum) abriu a porta, depois de eu ter pousado as coisas sobre a mesa do corredor junto à sala de Ciências. Pois, entrei. Os alunos entraram. Eu entrei na plataforma 1, 2 e 3 antes de começar a aula (se não, não consigo dar a aula - às vezes vou mais cedo, e os alunos entram quando estou para entrar na plataforma 2, antes de ser transmutado em chumbo e antes da obra ao negro - peço desculpa se sois ignorantes a respeito de alquimia, mas também tenho de falar com os iniciados) e comecei a aula. Falámos brevemente de coisas sérias, longamente de coisas fúteis e especificamente de coisas irrelevantes (e é dessa mistura que sai o amor, não é daquelas tretas de não-sei-quantos gramas de carinho, sinceridade e o crl, o amor é coisa séria e, por isso só há uma forma de o cozinhar: cru. Quem gosta gosta e se não gosta procure outro restaurante. Supostamente é de graça, por isso não reclamem). E depois desses preliminares quis pegar no telemóvel, celular para os brasileiros. E o telemóvel, relembro, é-me necessário para dar a aula. A este respeito, lembro que alguém se queixou numa coisa-muito-importante-que-ninguém-sabe-que-existe, que eu, professor de matemática, dava aulas com o telemóvel, e houve alguém, a quem estou muito grato, que deu uma desanca nessa pessoa. Supostamente, essa pessoa, que não sei quem é - a pessoa que me desancou por ser tão mau profissional que até utiliza um objeto pessoal mais íntimo e revelador que as cuecas para dar aulas - e cuja identidade não me dei ao trabalho de averiguar, porque a constituição dessa coisa importante-que-ninguém-sabe-o-que-é é pública e está na Internet, ficou sem palavras. Mas eu não estava lá, nem sei quem era a pessoa, que até pode estar a ler-me, o que eu duvido, já que contabilizo, com alguma certeza, que tenho cerca de sete leitores - parabéns se chegou aqui, está no meu coração, ou nos antípodas, porque acredito que duas ou três pessoas apenas estão a ler isto para me fdr a seguir, e não é no bom sentido). E por isso não falo mais sobre o assunto, a não ser que haja desenvolvimentos. E, entretanto, peço desculpa. Não avancei muito na história, mas agora tenho mais que fazer. Boa tarde. Ou noite, ou o crl.