sexta-feira, 27 de março de 2015

Suicídio nas águas



Nas águas onde Ofélia flutua
E Virgínia desce,
Anju avança, a caminho da plácida anulação da dor.

Onde as flores se despedaçam lentamente
Em pétalas manchadas de limo verde,
Ofélia flutua e Virgínia desce.

Anju avança entre as ervas altas coroadas de neve e algodão.
Onde um barco vacila,
Encalhado nos cabelos das fadas,
Que todos os dias morrem
Pela descrença,
Dois amantes baloiçam sobre o espelho baço do nevoeiro
E descobrem no abraço da morte
Que o rio apenas dissolve as mágoas
Nas lágrimas da própria Terra….

Ofélia flutua
Como mais uma flor arrancada à terra
E sem outras raízes que não o ventre esquecido de sua mãe.

Virgínia desce
E ancora no lodo das vozes.
Anju avança
Ofélia flutua
Virgínia desce
No ventre esquecido das mães que nunca foram.

1 comentário:

  1. É bonito demais, tocante mesmo. Tem uma sonoridade que podia ser prolongado muito mais sem cansar. "No ventre esquecido das mães que nunca foram" isso é de uma felicidade criativa. parabéns.

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