sexta-feira, 27 de março de 2015

Allegretto

Irrompeu do caos
O silêncio
E fez-se a maresia, o instante
E a solidão.
Irrompeu da espuma a tristeza,
A lágrima, a nuvem e a primeira imagem da nudez.
Irrompeu do caos
O silêncio: a primeira imagem da surdez desejada.
Irrompeu do caos e da lama
O silêncio purificante de uma chama, e o desejo
Da brutal carícia das coisas impossíveis,
Sobre a laje fria dos banquetes irreversíveis dos abutres.

Foi na secura resignada dos meus olhos
Que as lágrimas se espelharam,
Derramando-se no cântico lago do mundo.

Ao inclinar a cabeça servil
Soltaram-se, em gemidos, os cabelos da escravatura.
E abriu-se o caminho da tua viral doçura
Dos abismos sob as estradas e caminhos
Dos nossos infantis amplexos.
E irrompeu do silêncio a oração, então esquecida,
Dos abraços reflexos.

Descerrou-se o mármore.

E acolheu-se o silêncio nas palavras
Nuvem, água e maresia.

Descerrou-se o mármore
E entrou em trabalho de parto a poesia.

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