quarta-feira, 4 de julho de 2018

Uma pastelaria em Tóquio, de Naomi Kawase



Com intenções declaradamente didáticas, "Uma pastelaria em Tóquio" é um daqueles objetos cinematográficos singelos que, despidos de qualquer pretensão inovadora, nos ajuda a mergulhar na paz triste mas consoladora das histórias que cruzam solidões. Um homem com um passado e uma culpa; uma jovem de futuro incerto e uma personagem que enche todo o filme: uma senhora de idade avançada, com marcas de doença nas mãos, olhar e gestos infantis, simultaneamente comedidos e ingenuamente expansivos, maravilhosamente interpretada pela atriz japonesa Kirin Kiki. Três solidões que se cruzam sob a sombra luminosa das cerejeiras.

É também um filme sobre comida. Sobre slow food. A comida que conversa com o cozinheiro enquanto sofre as sucessivas mortes alquímicas em direção ao conforto aconchegante e revelador do ato sagrado de comer. 

Didático, portanto, nas suas intenções de humanizar aqueles que, deformados exteriormente por uma doença cruel e empurrados para o exílio das gafarias, podem ter tanto para ensinar e tanta beleza para dar ao mundo quanto o mais iluminado dos mestres. E didático pela simplicidade direta e linear com que ensina o respeito, de traços tão marcadamente nipónicos, com que se deve tratar aquilo que fazemos e aquilo que comemos. O respeito que devemos à vida.

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