segunda-feira, 2 de julho de 2018

Um lugar silencioso, de John Krasinki


"A quiet place", "Um lugar silencioso", de 2018, realizado e protagonizado por John Krasinski e pela sua também companheira na vida real, Emily Blunt, exige do espectador a absoluta suspensão de qualquer sentido de verosimilhança. Basta percorrer com os olhos algumas das críticas dos utilizadores do IMDB para, depois de visto o filme, confirmarmos as falhas óbvias do argumento no que diz respeito à sua compatibilidade da história com as mais básicas noções de bom senso de uma família sobrevivente num mundo devastado por criaturas cuja origem não é, jamais revelada. E pouco interessa. Podemos, constantemente, perguntar porque é que as personagens agem de forma tão inconsciente e leviana nesta ou naquela situação, mas o filme não pretende ter esse género de consistência. O objetivo é a absoluta alienação do espectador. O objetivo não é adentrar nas profundezas da alma humana, mas apenas, sentir o medo, de forma onírica. Sentir o silêncio e a ameaça constante de um pesadelo. Nem todos os objetos artísticos têm de, forçosamente, revelar algo, e estou bem convicto de que os sonhos não revelam nada sobre ninguém, a não ser de forma muito distorcida. Porém, quantas páginas de elevada literatura e obscura ciência se lavraram a partir deles? Quantas correntes artísticas, antes ou depois do Surrealismo, irromperam da pedra e do pergaminho?

Não é, porém, um filme surrealista. É um pesadelo bem filmado. Bem contado. E que, acabado, nos devolve inteiros. Não é pouco.

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