terça-feira, 3 de julho de 2018

Reabilitação e Fraternidade, de Elaine McMillion Sheldon


Elaine McMillion Sheldon é uma cineasta norte-americana nomeada este ano para um óscar pela curta-metragem documental "Heroin(e)". Em "Recovery Boys" ("Reabilitação e Fraternidade"), mais recente e disponível na Netflix, volta a pegar no tema da toxicodependência e no esforço, por vezes inglório, de quem tenta ajudar os outros a saírem do universo paralelo de um paraíso artificial de força avassaladora e onde não cabe a presença dos laços afetivos a que chamamos de amor. É uma visão desencantada e as personagens que enchem o filme não são objetos cinematográficos particularmente interessantes. Não o têm de ser. São pessoas, limitadas na sua própria luta e em confronto com as suas culpas e a sua impotência, não têm tempo para serem personagens interessantes para os outros. Nem a sua dignidade de seres humanos, donos da sua esfera privada, permite mais do que conhecer pela rama a complexidade das pulsões que os arrasta, pendularmente, entre a sobriedade e o desejo do prazer injetável.

Acompanhando a sua luta durante alguns meses, num programa de reabilitação que alia o programa de 12 passos com a vida e a rotina de trabalho rural, numa pequena cidade da West Virginia, o filme podia bem ser resumido a uma curta-metragem. Logo no início há uma frase interessante: "pensava que era assim que se vivia. Não sabia que havia gente a viver sóbria". Mais à frente, a evolução do conceito de amor, afetividade e laços familiares é bruscamente destruído por outra frase brutal e insensivelmente colocada: "tenho o amor e mais nada". E percebemos o abismo de indiferença que separa a não-ficção da nossa necessidade egoísta de ver um bom filme. Que não o é. Nem poderia ou deveria ser.

Sem comentários:

Enviar um comentário