domingo, 1 de julho de 2018

Quando os justos abandonam o caminho da verdade

A parábola dos cegos, de Pieter Brueghel, o Velho

Ainda ontem voltei a escrever neste blogue apenas porque estavam a espalhar mentiras. Independentemente de o fim ser louvável (a valorização da Educação Pública), quando os meios justificam os fins, há que utilizar a balança da consciência. A Educação Pública serve para educar os jovens (e os adultos também, embora de uma forma mais pontual ou indireta) no sentido de serem melhores cidadãos e valorizarem a verdade e o conhecimento. Ver professores a partilharem mentiras, seja por opção propagandística (isto é, mesmo desconfiando que é mentira) seja por inocência (que não é desculpável: a educação serve para abrir os olhos e não para adormecer a sociedade nos narcóticos da ingenuidade) é perder por completo a confiança naqueles que nos deviam guiar. Está a decorrer uma luta pela justiça. Os professores pedem justiça e pedem reconhecimento. Ora, eu sou professor. Mas não me ponho ao lado de quem utiliza mentiras para chegar a um fim, por mais justo que seja (a não ser em casos excepcionais, nomeadamente quando há vidas em jogo, como numa guerra).

O STOP, uma organização de professores onde todos estão integrados voluntariamente, nem que seja à força, decidiu partilhar este este texto:

"Desculpem o longo desabafo mas estava atravessado ...A vida ensina-nos a mudar de ideias ... e felizmente com o avançar da idade fazemo-lo cada vez mais tranquilamente, sem medos e complexos . Não sou Professor, mas sempre tive ligado às Escolas por questões profissionais e para além disso sou Pai de 4 filhos, um deles licenciado como Professor pela ESE LX (não exerce ... após o estagio ficou de tal forma descontente que por enquanto seguiu outro caminho) e outros três nos 11º, 9º e 6º ano. Critiquei muito esta greve, não pela legitimidade e pela causa dos Professores, porque isso é mais que óbvio e todos estamos com eles, mas pelo sentido de oportunidade dessa greve que prejudica essencialmente alunos e familias. Critiquei um pouco a quente e emocionalmente, influenciado também porque um dos meus filhos estar bastante dependente das notas internas e por sugestão da Direccção teve que realizar exames a disciplinas que ele sabe que irá passar. Mas volvidas 3 semanas (ainda não sei as notas internas) fui reflectindo, fui conversando com muitos Professores entre eles amigos que me são sempre queridos e dos quais valorizo muito a sua opinião , fui tomando conhecimento mais claramente quer das razões como de todo este processo de greve (não gosto e confio em sindicatos mas o STOP parece fugir desse modelo ... esperando que como habitualmente quando ganham força e influência, não se acomodem ao poder e não se tornem mais uns "paus mandados" desse mesmo poder) e confesso que está a ser para todos nós ... um enorme exemplo de cidadania, de intervenção civica, de determinação e de luta pelos nossos legitimos direitos ... mas também um braço de ferro de gente que trabalha , que se dedica em condições muito dificeis ... contra uma classe politica cada vez menos transparente e cada vez mais incompetente ... insensivel aos problemas e aspirações de todos nós. Mais do que uma luta dos Professores esta está a tornar-se uma luta de todos nós por solidariedade e devia servir de exemplo para outras causas e para tirar do marasmo um povo muito feliz e determinado mas que cada vez mais , fruto do descontentamento e da incapacidade de mudar as coisas, se tornou completamente passivo aos atropelos das desgovernações que vamos tendo. E relembro entre outras, por exemplo, a classe policial que é das mais prejudicadas e esquecidas ... que sirva de exemplo para que determinadamente sem cedências por falsas promessas lutem pelos seus direitos. Pois bem para finalizar, considero esta greve uma enorme lição de cidadania e intervenção civica para os meus filhos ... esperando sempre que lutem pelos seus objectivos e direitos com tal determinação e união. Como Pai e Cidadão apoio totalmente as motivações dos Professores e espero sinceramente que esta luta acabe com uma grande vitória da democracia, porque mais do que a habitual luta de sindicatos que também jogam nestas águas turvas do poder e braço de ferro com o Governo, esta é uma luta de pessoas que lutam pelo que lhes pertence e isso é mais que justificativo e legitimo. Finalizo ... e mais uma vez desculpas pela extensão, mas sinto também que é uma forma de agradecer aqueles que todos os dias lutam também pelo melhor para os meus filhos. Obrigado!"

Este texto é forjado.
Tenho provas? Não.
Mas quem é este pai que tem medo de assinar por baixo de um texto em que se manifesta solidário com os professores?

E se for verdade? Se for verdade, é pior. Porque professores estão a partilhar um texto apócrifo sem qualquer garantia de verificação da sua autenticidade. Professores estão a contribuir para este clima onde tudo o que aparece escrito passa a ser verdade se for a nosso favor e a ser falso se for contra nós. Pela dignidade. Pelos professores. Não partilhem aquela opinião, a não ser que o "pai", isento (e que não seja ao mesmo tempo professor) apareça a dar a cara. Apoios anónimos valem tanto quanto uma injúria.

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